Selic deve seguir em 14,75%, mas é prematuro falar em fim do ciclo, diz economista-chefe do Bradesco Asset – Money Times

Selic deve seguir em 14,75%, mas é prematuro falar em fim do ciclo, diz economista-chefe do Bradesco Asset – Money Times


banco-central-copom-selic Selic deve seguir em 14,75%, mas é prematuro falar em fim do ciclo, diz economista-chefe do Bradesco Asset – Money Times


Próxima reunião do Copom acontece nos dias 17 e 18 de junho. (Imagem: Reuters/Ueslei Marcelino)

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a Selic estável no patamar de 14,75% ao ano na reunião desta semana, mas não deve decretar o encerramento do ciclo de aperto. Ao menos é o que diz o economista-chefe do Bradesco Asset, Marcelo Toledo.

Em entrevista ao Money Times, Toledo diz que há uma probabilidade de 70% de que a Selic em seu nível atual seja capaz de provocar uma desaceleração gradual da inflação ao longo do tempo.

Contudo, declarar o fim do ciclo agora seria precipitado, uma vez que o risco segue sendo assimétrico: a atividade econômica mostra poucos sinais de desaceleração relevante e o mercado de trabalho permanece aquecido, o que pode dificultar a convergência da inflação.

O economista reconhece que houve melhora em variáveis como o câmbio e o ambiente externo desde a última reunião do Copom, o que reduz incertezas no curto prazo. Ainda assim, o foco da autoridade monetária, segundo Toledo, está nos fundamentos domésticos. E, nesse cenário, o avanço da inflação corrente ainda não configura uma tendência clara, enquanto medidas de estímulo fiscal e parafiscal seguem sendo implementadas.

O tom do comunicado da autarquia, portanto, deve seguir firme, afastando qualquer leitura de início de flexibilização monetária. Para o Bradesco Asset, os cortes na Selic devem começar apenas no segundo trimestre de 2026, em um ritmo bastante cauteloso.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Veja a entrevista com o economista-chefe do Bradesco Asset

Money Times: Qual a projeção do Bradesco Asset para a reunião do Copom de junho?

Marcelo Toledo: A nossa visão para esse próximo Copom é de manutenção dos juros. As últimas comunicações do Banco Central o deixam livre para tomar qualquer decisão — tanto o último comunicado e a ata quanto as entrevistas, principalmente do presidente do BC, apontam que a próxima reunião está em aberto.

Acreditamos que tem boas chances de que a Selic a 14,75%, se mantida por um período prolongado, faça a inflação cair. Não devemos alcançar os 3% de inflação no ano que vem ou no começo de 2027, que seria o deslocamento do horizonte relevante ao longo dos próximos meses, mas é suficiente para provocar uma desaceleração gradual. Dificilmente a meta vai ser alcançada nesse ciclo.

Money Times: O que levaria o Banco Central a realizar uma manutenção nos juros?

Toledo: Em relação ao último Copom, de 7 de maio, tivemos uma apreciação do câmbio — o câmbio de R$ 5,70 caiu para R$ 5,55. Houve também a perda de força do dólar global, que não se reverteu.

Além disso, o Banco Central destacou o ambiente externo muito incerto em maio, mas, na nossa visão, essa incerteza caiu muito. Chegamos a um estado mais previsível da política tarifária americana, que naturalmente foi o grande risco dos últimos meses — a expectativa é que as tarifas dos Estados Unidos fiquem, para a maior parte dos países, em 10% e, no caso da China, entre 20% e 30%. A aprovação do pacote fiscal de corte de imposto na Câmara também contribui do ponto de vista de redução de incerteza, ainda que o pacote seja desfavorável.

No entanto, acreditamos que o cenário global não é o essencial para a política monetária brasileira. O foco do BC é o cenário nacional.

No Brasil, houve uma melhora da inflação corrente, que é um elemento importante para o BC. Os núcleos agora estão em torno de 5,5%. No entanto, é cedo para dizer que é uma tendência. Trata-se de uma tendência bem lenta de desaceleração — ela vai continuar, mas de forma muito gradual, porque a atividade não está enfraquecendo tanto, mesmo com juros elevados. Teremos mais estímulos fiscais, parafiscais e de crédito nos próximos meses.

Money Times: Quais são as preocupações do Copom?

Toledo: Nesse momento, o debate é sobre o comportamento da atividade econômica. Mesmo diante do aperto de juros, os dados ainda não permitem uma conclusão segura de que a atividade está em desaceleração.

Os modelos indicam que, nesse segundo trimestre, deveríamos observar um efeito bem perceptível do aperto de política monetária, com a demanda de consumo de investimento se enfraquecendo de forma relevante.

O mercado de trabalho também preocupou o Banco Central. Desde o último Copom, o mercado se mostrou ainda mais forte do que seria compatível com esse estágio atual do ciclo de aperto monetário.

Money Times: As medidas anunciadas em relação ao IOF vão entrar na conta do Banco Central para a próxima decisão de juros?

Toledo: Eu acredito que não. O Banco Central, a princípio, não vai misturar os assuntos — o IOF não deveria ser encarado como um instrumento para gestão de política monetária.

E a estimativa dos impactos de segunda ordem é muito difícil de ser feita. Eu discordo bastante dessa avaliação de que há uma possibilidade de fazer uma equivalência de IOF com Selic, porque a Selic impacta vários canais da economia.

Algo que o Banco Central pode incluir no seu cenário é a isenção do Imposto de Renda Pessoa Física. O projeto, que entraria em vigor no ano que vem, está encaminhado e tem alta probabilidade de aprovação.
O Banco Central, por enquanto, não incorporou isso no cenário dele e pode fazer isso a partir dessa vez.

Money Times: O BC deve decretar o fim do ciclo de aperto monetário nesta reunião?

Toledo: Eu atribuo uma probabilidade de 70% de chance da Selic a 14,75% funcionar. Ou seja, ser compatível com uma desaceleração gradual da atividade e uma queda gradual da inflação.

Nesse sentido, o Banco Central está em uma posição confortável, porque alcançou um patamar bastante elevado de taxa de juros — é a política monetária mais apertada da história recente do Brasil. Estamos falando de um juro real de 9,5%.

Contudo, declarar o encerramento do ciclo pode ser prematuro. Tem grandes chances de que 14,75% seja suficiente, mas o risco continua sendo assimétrico para que a atividade permaneça forte e que a desinflação seja muito lenta. Portanto, talvez o Banco Central tenha que se manter vigilante e, eventualmente, pronto para reiniciar o ciclo de juros adiante.

Money Times: O que o mercado pode esperar do tom do Banco Central na reunião de junho?

Toledo: O Banco Central não vai dar um foward guidance, mas os diretores também têm em mente que não haverá um ciclo de queda de juros muito cedo.

As expectativas embutidas na curva de juros já colocam esse corte na conta mais cedo, mas não é o discurso do Banco Central. Ele se afastou completamente de qualquer debate sobre queda de juros. Quem trouxe esse debate prematuramente foi o mercado.

O desejo do BC é evitar qualquer debate sobre corte prematuro de juros.

Money Times: Quando o Banco Central iniciará a flexibilização monetária?

Toledo: Os cortes começam no segundo trimestre de 2026 e a Selic fecha o ano em 13% — um patamar ainda apertado. Estamos falando de um ciclo de easing bastante cauteloso — historicamente seria super cauteloso.

A condição mais importante para que o BC corte juros é que a inflação corrente tenha caído substancialmente, ainda que não tenha voltado exatamente para a meta. E, para isso acontecer, uma condição inescapável é a desaceleração da atividade.



FonteMoneytimes

Publicar comentário