Salário de quem tem pós é quase dobro do ganho de quem só tem graduação, diz pesquisa

Salário de quem tem pós é quase dobro do ganho de quem só tem graduação, diz pesquisa


O aumento na parcela de brasileiros com ensino superior completo e a multiplicação na oferta de cursos nos últimos anos levaram a uma mudança no mercado de trabalho. A pós-graduação ganha espaço como garantia de diferencial de salários no país, na avaliação de especialistas, recrutadores e empresas. Segundo levantamento do economista Naercio Menezes Filho, pesquisador do Insper, o rendimento médio de quem vai além da graduação no país soma R$ 11.539. É quase o dobro de quem concluiu o ensino superior (R$ 6.160).

Os números mostram que cursar a graduação ainda traz ganhos. O rendimento de quem terminou os estudos no ensino médio é de R$ 2.655. Mas a diferença salarial entre os dois níveis de instrução encolheu: em 2001, era de 2,5 vezes e, agora, de 2,3 vezes. A mudança não é à toa. No início dos anos 2000, o país tinha apenas 6% da população com ensino superior completo. hoje, essa fatia está em 20%.

— Até 2011, você tinha 10% das pessoas adultas com ensino superior. Quem tinha ensino superior, tinha diferencial de salário mais alto e maiores possibilidades de progressão na carreira. Mas, a partir daí, começam a aumentar as matrículas nas universidades, e o diferencial começa a cair em relação ao ensino médio. O que começa a aumentar é a pós-graduação — diz Naercio, lembrando que 1% da população concluiu essa etapa no país. — É importante pensar o mercado de trabalho como uma corrida entre tecnologia e educação. Quando a tecnologia aumenta, vai requerendo mais qualificação, e o salário sobe. Quando a oferta educacional aumenta, o salário cai.

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 ‘Lifelong learning’

Marcelo Neri, economista da FGV, avalia que os ganhos dos pós-graduados vão além do salário e incluem maiores chances de ocupação, formalidade e benefícios. Para ele, a escassez de mão de obra gera uma espécie de “prêmio educacional” para quem consegue chegar aos níveis de estudo demandados pelo mercado. Ele pondera que esta nova realidade requer que o profissional continue a estudar mesmo depois de conquistar uma vaga, o chamado lifelong learning:

— Você não estuda para depois trabalhar, você trabalha e estuda, e a pós-graduação está no meio desse processo de conciliar trabalho e estudo.

Essa nova dinâmica já foi incorporada aos processos seletivos. Na Subsea 7, empresa de serviços de engenharia submarina para a indústria de energia, a pós-graduação é considerada diferencial na hora da contratação, principalmente em cargos gerenciais, de finanças e engenharia.

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— São pessoas mais bem equipadas para tomar decisões e trazer potenciais soluções para problemas complexos. Hoje se fala muito nas organizações sobre a necessidade de o profissional se manter aprendendo continuamente e estar sempre se capacitando. A gente vê valor nisso — diz Alessandra Nogueira, diretora de RH da empresa.

A empresa oferece programa de educação continuada, no qual patrocina até 50% do valor dos cursos de pós, mestrado e doutorado para funcionários selecionados.

No caso da Nestlé, há incentivo à capacitação e oferta de recursos internos para o desenvolvimento profissional. A empresa oferece o programa Talent Hub, no qual o profissional pode escolher o tipo de curso e área e escolher entre formações de curta duração ou de longa duração, como uma pós-graduação.

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— A pós-graduação e outras formações mostram o quanto o candidato é comprometido com o desenvolvimento constante nos estudos. Acreditamos no conceito de lifelong learning, e encorajamos — diz Izabel Azevedo, diretora de Talento e Cultura da Nestlé.

Essa disposição para voltar para a sala de aula é citada pelo pró-reitor da FGV, Antonio Freitas, como um traço comum dos estudantes da pós-graduação:

— Pessoas já muito bem colocadas no mercado, até diretores de empresas, buscam o mestrado e o doutorado profissional. Está cheio de alunos em posições boas, mas querem adquirir base para seu crescimento. A pós passou a ter diferencial significativo.

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Essa capacidade de continuar a aprender é considerada uma vantagem na seleção de candidatos, diz Laís Vasconcelos, gerente da consultoria de recrutamento Robert Half. Ela afirma que o importante é seguir em atualização, seja por meio de pós ou cursos livres.

No Ibmec, houve aumento em 2024 na procura pela pós-graduação presencial. A maior demanda está em programas executivos, voltados a diretores e CEOs, sobretudo MBAs nas áreas de tecnologia, como IA, data science e big data aplicados a negócios.

— O aluno da pós-graduação busca capacitação maior do ponto de vista técnico. Ele quer ter acesso a conhecimentos e práticas que não teve na graduação e que são conhecimentos que vão possibilitar ter promoção ou mudar de carreira, conseguir um cargo com salário mais alto — explica Paula Steban, diretora de ensino do Ibmec.

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De acordo com a universidade, em 2024, a busca pelos cursos ligados a tecnologia cresceu quase 60%.

Transformação digital

Para Patricia Suzuki, diretora de Recursos Humanos da Redarbor, grupo dono da Catho, a valorização da pós-graduação está ligada ao aumento da complexidade dos cargos, impulsionado pela transformação digital, que exige profissionais mais qualificados, e que torna a especialização um diferencial competitivo:

— Isso não significa a desvalorização do ensino superior, mas a elevação do nível de exigência em função da competitividade do mercado.

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Depoimentos

‘Os planos de carreira para pessoas que têm especialização são muito melhores’

 Matheus Viug, de 30 anos, é historiador. Em 2024, concluiu o mestrado profissional em Ensino de História. A motivação foi a vontade de seguir estudando e o efeito positivo no desenvolvimento profissional. Para ele, instituições de ensino de maior prestígio dão prioridade a profissionais especializados e isso acaba sendo um diferencial no mercado de trabalho:

— Nas melhores escolas e universidades, não existe espaço para quem não busca se desenvolver academicamente. Postos de trabalho considerados ‘de elite’ exigem profissionais mais qualificados.

‘Fiz a pós, estou concluindo o mestrado e já tenho nos meus planos uma ideia para o doutorado’

 Servidora pública do Rioprevidência desde 2010, Bárbara Rodrigues, de 49 anos, é dentista e tem pós-graduação em Recursos Humanos. Ela entrou no serviço público para um cargo de especialista em previdência social e conta que, no órgão em que atua, pessoas com doutorado podem ter aumento na remuneração de até 40%.

— Essa melhoria na renda é uma maneira de fazer com que nós continuemos a nos especializar e desenvolver profissionalmente. Eu fiz a pós, estou concluindo o mestrado e já tenho nos meus planos uma ideia para o doutorado. E, quando fazemos isso, desenvolvemos também pesquisas na área e mais conhecimento — conta.

‘Título foi um diferencial para chegar ao meu cargo e me deu vantagem em relação aos concorrentes’

 A engenheira química com mestrado Thaiane Nolasco, de 35 anos, avalia que a pós-graduação foi fundamental em sua trajetória profissional e que abriu caminho para que ela tenha conquistado hoje melhor remuneração. Na avaliação dela, o mercado de engenharia tem dado sinais de valorização para pesquisa e desenvolvimento, e profissionais com especialização são mais requisitados.

— O título que eu tenho foi um diferencial para chegar ao meu cargo. Isso me fez ter vantagem em relação aos demais concorrentes porque eu conseguia dominar certas técnicas que a maioria não consegue — afirma.

Os planos de carreira para pessoas que têm especialização são muito melhores, com possibilidade de uma remuneração melhor.



FonteInformoney

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